Semana da Consciência Negra - Iturama debate igualdade de direitos

 Na semana do 13 de maio atividades são realizadas para conscientizar a comunidade contra o preconceito racial

 

Com a proposta de promover um amplo debate sobre as questões raciais, principalmente nas escolas, e servir como ponto de apoio para o fim do quadro discriminatório no País, Iturama realiza entre 10 e 14 de maio uma série de atividades alusivas à Semana da Consciência Negra (lembrada sempre na semana do 13 de maio), instituída pelo projeto de lei n.º 12, de 30 de junho de 2005, de autoria do prefeito Cláudio Tomaz de Freitas enquanto integrante do Poder Legislativo.

Para conscientizar alunos da rede pública municipal, as equipes pedagógicas de cada uma das escolas programaram a inclusão do tema durante as aulas. A programação foi definida em reunião, na Secretaria Municipal de Educação, entre representantes da Pasta, do Departamento Municipal de Comunicação e de representantes da comunidade engajados na luta pela igualdade de direitos.

 

 

Segundo o prefeito Cláudio Burrinho, o debate é uma das formas mais democráticas de minimizar a questão do preconceito racial. “Iturama busca concretizar a garantia de direitos, tanto que estabeleceu uma semana de discussões e atividades que focam a igualdade. Simplesmente, pensar que o problema não mais existe, por questões referentes a uma série de avanços, não é o caminho para uma sociedade igualitária. Precisamos debater as pendências e buscar meios para que de fato as garantias sejam asseguradas.”

Para ele, a educação, como em várias outras situações, é o caminho para que, principalmente, as crianças se conscientizem de que a cor da pele não é um diferencial para que pessoas não tenham as mesmas oportunidades. “Somos iguais perante a lei, devemos lutar pelas mesmas condições no acesso a vagas de trabalho, pelo respeito, dignidade e como agentes sociais capazes de participar sempre. Cabe à sociedade como um todo levantar a bandeira permanente da igualdade de direitos. Somente desta forma conseguiremos o pleno desenvolvimento como Nação.”

 

Homenagens

Mostrar a contribuição de personalidades da raça negra para o desenvolvimento de Iturama é a proposta da exposição itinerante “Histórias de uma Raça”, que será aberta nesta sexta-feira, na Praça do Santuário, às 20h, e que se estenderá até o novembro - no dia 20 do respectivo mês é comemorado, nacionalmente, o Dia da Consciência Negra.

Os homenageados - o senhor Antônio Amâncio da Silva (Antonio Zabela), 98 anos; Firmino Alves de Assis (Quital), 94; Jair César Ferreira, 68; Margarida Aleixo da Silva Apolinário, 63; Pedro Andreza da Silva, 70 anos; Sebastião Pandolfi, 73; Maria Francisca dos Santos, 38; Nilson Conceição de Oliveira, 45 e Marco Túlio da Costa Cruz (Cutula), 57-, retratam de acordo com cada vivência questões sobre o preconceito racial – avanços e pendências. 

O senhor Antônio Amâncio da Silva, conta que foi incentivado a estudar pelos padrinhos, mas não aproveitou as oportunidades. “Quando eu era jovem não quis ir para a escola e isso me fez muita falta. Tive de me contentar com o que Deus me deu. Não me arrependo, entretanto, porque arrependido não se salva”, considera.

Catireiro nato, o senhor Firmino Alves de Assis diz ter vencido muitas batalhas na vida, mas não referentes ao preconceito. Conta, entretanto, sobre como as coisas foram difíceis em sua vida. “Estudei até a 4.ª série e, aos 20 anos, comprei um cavalo para trabalhar pelo mundo e nunca mais parei”, explica.

“Nós precisamos ainda ganhar espaço, ter a idéia firme e conceitual de que, por meio dos estudos, conseguiremos diminuir as distâncias na sociedade brasileira”, diz o promotor Jair César Ferreira. Ele conta nunca ter sofrido, abertamente, formas de preconceito, mas diz sentir que algumas pessoas parecem assustadas quando encontram um promotor negro.

A pedagoga Margarida Aleixo da Silva Apolinário, atenta para a necessidade de as autoridades acolherem mais amplamente os projetos voltados aos jovens negros. “Vejo uma necessidade muito grande de inseri-los no mercado de trabalho e para que tenham os mesmos direitos sociais.”

Bisneto de escravos, o sr. Pedro Andreza da Silva, lembra que desde os 14 anos já trabalhava tirando leite. Mudou-se para Iturama em 1970, e trabalhou de servente de pedreiro, quando auxiliou na construção do Fórum, Hospital Santa Rosa e atuou como voluntário no salão do Centro Comunitário da Associação do Bairro São Miguel. "Graças a ajuda de todas as administrações os estudos dos filhos nas cidades vizinhas puderam acontecer. O estudo é fundamental para minimizar o preconceito racial”, considera.

“Felizmente, mesmo que lentamente, temos tido avanços na área do combate ao preconceito racial, mediante leis federal e municipal, dando-nos esperanças que, em breve, será erradicado plenamente”, lembra o músico Sebastião Pandolfi.

A funcionária pública Maria Francisca dos Santos, formada em Ciências Contábeis, diz que apesar dos avanços, não se pode negar a existência do racismo e de todas as suas consequências “Hoje, entretanto, podemos definir nossos governantes e participar de várias outras escolhas. Quando se é negro não basta, por exemplo, lutar pela cidadania participando de um partido político. É preciso definir a qualidade e, simultaneamente, organizar-se enquanto setor diferenciado no interior deste partido. Isso ocorre porque a luta contra o racismo ainda não foi suficientemente abraçada por todos aqueles, que, independente da cor, acreditam e lutam por uma sociedade plenamente democrática e justa.”  

O presidente da Câmara Municipal de Iturama, Nilson Conceição Oliveira, considera que, apesar dos avanços contra o racismo no Brasil, as diferenças ainda são marcantes. “Os negros compõem as altas taxas de analfabetismo, dos que vivem em miséria, da grande massa dos que recebem o salário mínimo e que agora engordam as estatísticas dos desempregados. Apesar de tão desconcertante situação, poucos são ainda os que se aventuram a tratar abertamente a questão. Temos de trabalhar para mudar isso.”

Marco Túlio da Costa Cruz, desde criança amante do futebol, jogou 15 anos como atleta profissional em vários estados brasileiros. “Atuei no Roubaix, ao norte da França, jogando em mais seis países diferentes. Quando voltei a Iturama, fundei, com o auxílio dos pais de alunos, a ‘Escolinha de Futebol Cutula’. Desde a fundação já passaram mais de 2.700 crianças (atletas) - mais de 50 foram indicadas para equipes de base e profissionais.”

Hoje são cinco atletas jogando em times profissionais e oito nas categorias infantil e juvenil. O objetivo maior do projeto é tirar os alunos da ociosidade e ensinar a prática correta do esporte.

"Vejo a questão racial com bons olhos. Hoje temos uma geração muito independente que corre atrás dos seus sonhos, mas isso não significa que as dificuldades não existam em vários setores. No esporte as portas sempre estiveram abertas".

 

 

Programação

 

Semana Municipal da Consciência Negra

 

De 10 a 14 de maio

 

1.      Implementação do Trabalho em Sala de Aula

 

Cine Afro-Brasileiro – nas escolas municipais de Iturama

 

2.      Palestras

 

12/05/2010  

Local: Escola Municipal João Ribeiro Rosa

Hora: 19h30

            História Afro - Ebdon Junior Apolinário

            Saúde – Dr. José Herculano Pereira dos Santos

 

·        13/05/2010 - 

Local: Escola Municipal Maria de Queiroz Barbosa

Hora: 19h30

                        Direitos e formação – Dr. Jair Cesar Ferreira

                                   História Afro – Nevilda Azambuja

 

3.      14/05/2010

 

      Festa Comemorativa

Local: Praça do Santuário

 

Programação:

 

19h – Apresentações Artísticas:

Capoeira

Hip – Hop

Escola de Samba

 

20h - Cerimônia aos homenageados – Abertura da Exposição Itinerante “Histórias de uma Raça”, que seguirá até a semana de 20 de novembro (Dia Nacional da Consciência Negra)

 

Assessoria de Comunicação

Elizandra Manfrim Magossi

Tel: 34 3411 9512